Que darei eu ao SENHOR, por todos os benefícios que me tem feito? (Salmos 116.12).
Muitas pessoas, até mesmo cristãs, trazem dentro de si uma ideia muito pagã em relação a Deus. Elas creem em uma falsa “doutrina da retribuição”. Pensam que ao fazerem determinadas coisas para Deus, ou que quando tem comportamentos ética e moralmente corretos, ou mesmo quando vão ao culto, sendo dizimistas, trabalhando na igreja, e dando bom testemunho; tais pessoas pensam que assim se tornam merecedoras de alguma graça ou bênção divina. Se acham mesmo no direito de reivindicar “graças” diante de Deus, se esquecendo de algumas verdades:
1) Se somos merecedores de algo, devemos lembrar, que se não fosse a Graça de Deus manifesta em Jesus, nossos pecados nos fazem merecedores da ira de Deus, do inferno, do sofrimento, e da morte eterna!
Parece que nos esquecemos que diante da justiça e da santidade de Deus: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só (Romanos 3:10-12). Esquecemos que todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus (Romanos 3.23). E que todos os dias continuamos pecando, e a alma que pecar, essa morrerá! (Ezequiel 18.4). Esquecemos que cada pecado nosso, carrega em si o mesmo potencial destrutivo e mortal, idêntico ao pecado original dos nossos pais.
Sei que alguns dirão: “ah, mas Deus conhece o meu coração, Ele sabe que sou bom por dentro”. De fato ele nos conhece por dentro e por fora; conhece mesmo o nosso coração! Ele conhece esse nosso coração, do qual segundo Jesus nos diz saem os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as imoralidades sexuais, os roubos, os falsos testemunhos e as calúnias (Mateus 15.19).
Não!!! Nossas obras boas, não podem “comprar” graças e bênçãos de Deus! Se Deus nos abençoa e é gracioso para conosco, Ele o faz por causa de Si mesmo! A motivação que Deus encontra em ser abençoador, tem haver com sua bondade, graça, amor e misericórdia; e não com as nossas obras.
2) Se nos tornamos merecedores de alguma graça, já a graça deixa de ser graça e se torna salário.
Geralmente explicamos a palavra “graça” como favor imerecido. Embora limitada, esta definição aponta para a realidade de que “graças”, ou “bênçãos”, não são coisas conquistadas, mas doadas. São dadas a nós sem que mereçamos, sem que tenhamos feito algo para receber. De fato, o que vemos é que andamos bem longe de sermos merecedores de “graças”, estamos mesmo é com débitos enormes de “desgraças”, mas que, graças a Deus, foram pagas por Cristo na cruz!
Quando achamos, que fizemos algo que possa nos tornar merecedores de uma graça divina, creio que duas coisas aconteceram: primeiro deixamos de ver o quão indignos e errados somos diante de Deus! Segundo, fazemos com que a graça deixe de ser “doação” e passe a ser obrigação. Em outras palavras, em nossas mentes as bênçãos não são dádivas de Deus, mas salários que Deus nos deve! Será que não nos perdemos nesta história?
3) Se basearmos a nossa vida com Deus nesta perspectiva, a nossa relação com o Senhor nada mais é do que uma troca de favores, uma negociação, um vínculo empregatício, ou mesmo uma relação de interesses, onde eu faço algo para Deus, esperando um favor em troca.
Fico aqui me perguntando se você que lê este texto, gostaria de se relacionar, namorar, ou casar com alguém que só esteja contigo por interesses! Como é que, então, podemos crer, que Deus gosta de tal tipo de relação? Imagine uma mulher dizendo a um homem: “eu só estou contigo, por interesses! Só me relaciono com você por conta daquilo que você pode me dar!” Como acha que ele se sentiria? Assim se sente o Deus com os corações interesseiros que se aproximam Dele!
Para agora e pense! Lembre do Deus que planejou e criou nossas vidas com muito amor; que criou o universo para nós; que mesmo quando nos rebelamos e pecamos contra Ele, que mesmo quando éramos inimigos de Deus, ainda sim nos amou; um Deus que decidiu nos resgatar dando a vida do seu Filho Unigênito Jesus Cristo; que decidiu dar-se a si mesmo como presente eterno morando em nossos corações na pessoa do seu Espírito Santo; que nos dá vida em abundância, saciando a nossa sede, enchendo os nossos corações de alegria e paz. Lembre do que o nosso Deus fez e tem feito por nós todos os dias: nos livrando do mal; guardando nossas vidas; nos dando família, o pão de cada dia, emprego, saúde, filhos, casamento, amigos, irmãos, igreja, etc. Olhando pra isso tudo é impossível que os nossos corações não sejam movidos por uma imensa gratidão a Deus! É improvável, que a nossa motivação em servir, viver e nos relacionar com Deus não seja a mesma do salmista, ao dizer: “que darei eu ao Senhor por todos os benefícios que tem feito a mim?” (Salmo 116.12).
Não fazemos primeiramente algo para Deus, para posteriormente possamos receber Dele algo em troca. Essa ordem está errada! Primeiro Deus faz, depois o homem retribui! Deus já fez por nós e agora estamos fazendo para Ele! Tudo que fazemos agora “para Deus” é uma resposta ao amor de Deus e às constantes inciativas da graça e bondade divinas.
Vivemos vida santa não para recebermos bênçãos em troca, mas porque primeiramente Deus nos salvou, nos justificou, nos separou para si, e colocou seu Espírito Santo em nós, que diariamente nos corrige e nos santifica. Porque ele nos santificou, nos santificamos para Ele!
Somos dizimistas não por medo do devorador, ou para receber dispensas cheias; mas porque primeiramente Ele, repreendeu o devorador em nossas vidas, nos deu trabalho, saúde e salário. Somos generosos em sua obra, porque Ele tem sido generoso conosco!
Trabalhamos em sua obra, não visando as bênçãos, mas porque já fomos abençoados com o seu chamado, com seus dons e talentos e com a honra de sermos cooperadores com Deus nesta grande obra. Vivemos para sua Glória, porque ele nos leva a viver de glória em glória.
Comparo isso, a um fato que aconteceu na minha relação com meu filho mais velho Arturzinho. Quando meu aniversário estava chegando, ele me pediu dinheiro dizendo que queria comprar um brinquedo. Dei o dinheiro para ele, mas para minha surpresa ele comprou um presente de aniversário para mim. Na época, ele tinha apenas 5 anos de idade, não trabalhava e não tinha como ganhar dinheiro para comprar algo pra mim. Ele só pode me dar algo, porque eu dei para ele primeiro. A alegria dele foi a de me ver sorrindo e receber beijos e abraços.
Assim somos, nós! Não temos recursos criados, ou conquistados por nós para dar nada para Deus o Pai! Tudo que temos de bom, vem Dele! Tudo que fazemos para Ele, é porque Ele já fez antes por nós! Poderia alguém dizer: “mas qual será a nossa motivação para servir a Deus? Não haverá prêmios para os bons e castigos para os maus?”
Creio que aquele que se relaciona com Deus na perspectivas de castigos e prêmios ainda não conheceu a Graça e o Amor de Deus como deveria. Por isso, eu daria três razões pelas quais vivemos para a glória de Deus:
A primeira, a gratidão, que brota de um coração, de quem olha para Cristo Jesus sua vida e obra, que reconhece o quanto Deus é bom, gracioso e misericordioso para conosco. A segunda, o amor dos filhos que querem constantemente agradar ao Pai maravilhoso que Deus é, e que querem ver o sorriso do Pai honrado por seus filhos. A terceira, o Espírito Santo que age dentro de nós, levando-nos a viver uma vida santa para Deus. Se você acha que prêmios, bênçãos, maldições e castigos, são fatores motivacionais maiores que o amor, gratidão e o Espírito Santo, você ainda não descobriu o que é de fato viver para a Glória de Deus.
Viva pra Glória de Deus!!!
Pr. Artur Filho.